O discípulo amado correu mais depressa!

Ainda estamos com as luzes de Natal acesas dentro da gruta de Belém e eis que a liturgia nos transporta hoje a uma outra gruta, a gruta do sepulcro na manhã do domingo de Páscoa. Em Belém contemplamos uma gruta com o Menino envolto em faixas; na manhã de Páscoa contemplamos somente as faixas que envolviam Jesus em uma gruta vazia.

A vida de Jesus é uma unidade; todos os mistérios de Sua vida são ações salvíficas. Por isso podemos dizer que o mistério pascal não se reduz apenas ao Tríduo Pascal, mas é toda a vida de Jesus, desde Sua Encarnação até Sua Ascensão aos céus.

No Menino deitado na manjedoura Deus manifesta todo o amor que Ele tem por nós, amor que vai ao extremo do dom da vida de Seu Filho no Calvário até à glória da manhã de Páscoa, quando Ele ressuscita vencendo nossa morte, nosso pecado e libertando-nos do poder do demônio, abrindo-nos definitivamente o Reino dos Céus.

Jesus é a manifestação total, única e plena do amor de Deus. O apóstolo João, que hoje comemoramos, fez a experiência desse amor de Deus em Jesus. João toca a realidade do amor e da vida de Deus, que se manifesta em Cristo, e se deixa transformar por ela: "o que vimos com nossos olhos, o que tocamos com nossas mãos a respeito do Verbo da vida, isto vos anunciamos!"

João acolhe o amor de Deus que se manifesta em Cristo e, a partir da consciência e da experiência desse amor em sua vida, ele permite que Cristo o ame e estabeleça uma relação de amor exclusiva e privilegiada com ele.

João se reconhece como o discípulo amado; mas para João essa condição não era um privilégio somente seu; ele não se considerava "o Predileto" ou "o melhor e mais querido" do que os outros Apóstolos. João sabia que esta condição de discípulo amado é a condição de todos aqueles que se abrem para receber a manifestação do amor de Deus em Jesus.

Sim, João sabe que todo aquele que, pela fé, faz a experiência do amor de Deus em Cristo, toca com suas mãos a realidade do Verbo da vida e pode assim tomar consciência e fazer a experiência desse Amor, tornando-se também um discípulo amado.

Portanto, o discípulo amado do Evangelho é João, mas é também cada um que crê em Cristo, que crê em seu amor e acolhe esse amor em sua vida para amar a Cristo com a força do próprio amor que recebe de Cristo. Esse amor que recebemos de Cristo nos faz correr mais depressa em direção a Cristo e nos faz crer com maior intensidade.

O discípulo amado correu mais depressa e, mesmo sem ter visto o Ressuscitado, acreditou, no Senhor diante do túmulo vazio: "Felizes os que creem sem terem visto!" (Jo 20, 29). Só o amor pode nos tornar capazes de crer verdadeiramente em Cristo, crer que somos amados por Ele. É pela fé que podemos ver a realidade do amor de Deus por nós que se manifestou concretamente em Cristo: "a Vida se manifestou e nós A vimos!"

Sejamos o discípulo amado, toquemos no Verbo da vida pela fé e façamos a experiência do amor de Jesus para podermos testemunhar ao mundo esse amor e chamar a muitos para fazerem essa mesma experiência de João, experiência de se sentirem o discípulo que Jesus ama, o objeto de Seu amor de Sua predileção: "nós vimos o amor de Deus e nele cremos!" (1Jo 4, 16).

Oitava de Natal — Ano A - Festa de S. João Evangelista - Leituras: 1Jo 1,1-4; Jo 20,2-8.

"VIVER É CRISTO"

Ir. Bonifácio OSB